Varanda Virtual

9.10.07

Imagem Fiel de Mim Mesma

“Tenho em mim uma imagem muito boa, e cada vez que eu a tenho, e cada vez que ela vem ela aparece toda.” Clarice Lispector. Tenho em mim uma imagem freqüente. E é assim que me reconheço. Tenho em mim a vontade, fiel cópia de minhas inspirações poéticas. Talvez românticas. Vejo uma cabana criada na madeira mais pura das florestas geladas. Um lago de águas claras, dançando a melodia de brisa corrida pelos cantos. Minha mente se encontra apagada. Apenas jogada nesse cenário utópico, bucólico. Minha mente sou eu sentada na varanda da cabana. Papel e caneta às mãos dando o toque final no possível livro. Imagens freqüentes. Clarões na floresta, montanha ao fundo lembrando a geada que caíra. Patagônia ou Alasca. Depende de mim. Da minha vivacidade, da minha lucidez. Um pouco de fantasia. Um pouco de mim mesma neste cotidiano entorpecente que me invade. Bichinho que brinca na mata, pássaros voando no céu. Dia úmido por causa da neve que derrete no alto. Sinto-me pura. O interessante do cenário é a luz que distorce a força. Grita em mim uma verdade que não entendo. Passo meus olhos atônitos por um instante de realidade móvel. Há em mim uma maneira de ver o mundo. Ondinhas se formam no lago transparente. Escolho uma borboleta que nasce na flor. Corro os dedos pelos cabelos e encontro idéias soltas, quase que posso tocá-las. Como algo que se vai. E volta. A cabana não tem aquecedor, apenas lareira que queima fogo. Por enquanto, aconchego meu frio ao chocolate quente da caneca. Linhas são preenchidas por algo que não sou eu. Eu sou este pensamento. Eu sinto toda a imagem Eu crio toda a história. Eu me viro do nada. Quis descobrir o pequeno caminho que leva o bosque a casa. Colhi algumas flores amarelas e outras lilases. Fiz um buquê do que encontrei em seguida e joguei pedrinhas na direção das estrelas do céu. Ali estou comigo. Sinto o ar da montanha entoando cânticos. Sinto o nada. E pra mim, o que há em mim, um nada me basta.

1 Comments:

  • Parabéns! Está tudo lindo! Este texto faz lembrar muito paciente de alzheimer. São lembranças detalhadas de partes de suas vidas, geralmente infancia e juventude que se refletem ao nada de hoje. nem se quer se lembra quem é,ou como faz para abrir os olhos, mas mesmo com sua linguagem, fala, confusa, relata momentos de sua vida como se os tivesse vivido a alguns minutos. Gostei muito da idéia, continue!!!!

    By Anonymous Anônimo, at 8:57 AM  

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